Inadimplência resiste a recuar
Após cair para 5,8%, a parcela das operações com pagamentos em atraso há mais de 90 dias voltou a subir, atingindo 5,87%, patamar muito perto do recorde de 5,91% registrado em maio.
A inadimplência no sistema financeiro vem mostrando certa resiliência. A queda divulgada pelo Banco Central (BC) em junho não se confirmou como início de um processo de reversão da forte alta ocorrida a partir de janeiro de 2011. Após cair para 5,8%, a parcela das operações com pagamentos em atraso há mais de 90 dias voltou a subir, atingindo 5,87%, patamar muito perto do recorde de 5,91% registrado em maio.
Os números foram divulgados ontem pelo BC. Desde o início do ano passado, a inadimplência já subiu praticamente 30%, pois em dezembro de 2010 estava em 4,54%. O indicador apurado pelo BC refere-se apenas aos empréstimos e financiamentos concedidos com recursos livres pelos bancos e mesmo assim sem os imobiliários. Mas quando se olha a carteira total (recursos livres e direcionados), a inadimplência também não está caindo, pois, pelo quarto mês seguido, ficou em 3,8% em julho. Em dezembro de 2010 era de 3,2%.
As estatísticas disponibilizadas pelo BC não referendam a expectativa manifestada pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, em meados de agosto, de que já haveria indícios de retração.
O chefe do Departamento Econômico do BC (Depec), Tulio Maciel, voltou a dizer que a inadimplência vai cair nos próximos meses, puxada por uma melhora nos financiamentos de veículos. Nesse segmento, a participação das operações em atraso no total manteve-se em 6% em julho, mesmo percentual do mês anterior. Maciel destacou ainda que a parcela com pagamentos em atrasos entre 15 e 90 dias caiu pelo terceiro mês consecutivo, período em que saiu de 8,6% para 7,9%. Ele acrescentou que a parcela financiada dos veículos caiu de 85% para 70% desde o fim de 2010. Essa mudança de perfil, disse ele, tende a contribuir com a queda dos atrasos.
Julho foi um mês de queda nas concessões de crédito novo. A média diária dos empréstimos e financiamentos com recursos livres dos bancos recuou 10,1% depois de subir 6% em junho na comparação com o mês anterior. A redução foi influenciada por fatores sazonais, disse Maciel.
Apesar do IPI reduzido, até as concessões para financiamentos de veículos caíram. Após a expressiva elevação de 22,8% em junho, a média diária caiu 10,5%. A despeito disso, o técnico do BC entende que o efeito dos estímulos do governo sobre esse segmento não foi efêmero. "A média caiu mas manteve-se acima do patamar verificado em todos os meses anteriores de 2012. O impulso permanece."
Maciel também apresentou dados prévios para agosto, que apontam para queda de 1,4% na média de concessões dos 13 primeiros dias úteis do mês na comparação com o mesmo período de julho.
Já o estoque de crédito total seguiu crescendo, mas em ritmo bastante moderado em julho. O aumento foi de apenas 0,7% para R$ 2,183 trilhões. Em relação ao PIB, o saldo de operações manteve-se em 50,7%.
A carteira dos bancos privados de controle nacional sequer se expandiu; encolheu 0,1 ponto percentual no mês. "Não sei se esse 0,1% de queda tem significado maior, pois é no mês, é pontual", disse Maciel. Ele não acredita que isso vá se configurar uma tendência. O crescimento das operações do sistema como um todo, mais uma vez foi puxado pelos bancos públicos, cuja carteira aumentou 1,5% em julho. Os privados de controle estrangeiro fecharam o mês com 0,6% a mais.
Apesar do modesto desempenho do crédito no mês passado, Maciel disse que a variação acumulada em 2012 deverá ficar um "pouquinho" maior do que os 15% até então projetados pela autoridade monetária. Ele lembrou que em 2011, quando a expansão foi de 19,01%, no acumulado dos primeiros sete meses, o crescimento foi de 8,8%. "Neste ano, temos até julho expansão de 7,6%, o que dá uma ideia de que vamos crescer menos que os 19% de 2011, mas talvez mais que os 15% estimados."
A avaliação do crédito em 12 meses vem desacelerando tanto que até julho foi de 17,7%. Mas essa desaceleração não seria suficiente para chegar aos 15% projetados. Nesses 12 meses, enquanto a carteira dos bancos estatais cresceu 27,2%, a das instituições privadas de controle nacional subiu 8,6% e a das privadas de controle estrangeiro, 15,8%.
As taxas médias de juros continuaram recuando por conta de achatamento de spreads e da redução da taxa básica de juros. A taxa média geral caiu para 30,7% ao ano, o menor patamar da série histórica do BC, com início em julho de 2000.
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